Entrevista: Tatiana Niwa

    A entrevistada da vez é Tatiana Niwa, psicóloga do IFPR campus Pinhais.

    Ela nos contou um pouco sobre a sua profissão, e falou sobre saúde mental e a campanha do Setembro Amarelo. Além disso, nos deu dicas de leitura muito interessantes.

    Esperamos que gostem!

    Boa leitura!

Foto: Arquivo pessoal


O Clube: Com a aprovação da Lei 13.935/2019, as instituições de educação básica devem contar com psicólogos. Você poderia falar um pouco sobre a especificidade do trabalho do psicólogo escolar? Como é a sua rotina?

Tatiana: A promulgação da lei significa uma conquista importante em termos de direitos, proteção e desenvolvimento de crianças e adolescentes a partir do âmbito escolar.
    E sobre o trabalho do psicólogo escolar, é pertinente esclarecer, pois muitas vezes as pessoas confundem o trabalho do psicólogo escolar com a psicologia clínica, que é mais conhecida, mas ambos possuem suas especificidades de atuação. O psicólogo escolar não realiza psicoterapia, então quando observa esta ou outra necessidade, encaminha o estudante para atendimento por outros profissionais.
    Resumida e simplificadamente, o psicólogo escolar atua no cotidiano da escola, buscando ações colaborativas nas estratégias de intervenção, ouvindo os estudantes, os professores, gestores, famílias e demais membros da comunidade escolar, visando o desenvolvimento integral do indivíduo. Para tanto, são estimulados o autoconhecimento, autorregulação emocional, relações interpessoais, empatia, consciência ética.
    Quanto à minha rotina, ela se alterou bastante neste ano com a pandemia de Covid-19 e a maioria dos projetos previstos para este ano estão suspensos. No entanto, atuando na equipe da Seção Pedagógica, meu trabalho envolve primordialmente atividades de acompanhamento do processo ensino-aprendizagem, de acolhimento, orientação de estudantes, pais ou responsáveis, bem como participação na elaboração de estratégias psicopedagógicas.


O Clube: Promover a saúde mental é fundamental, não somente em tempos de pandemia, mas certamente não é um trabalho fácil. Quais são os maiores desafios encontrados na sua profissão?

Tatiana: O grande desafio para mim e para muitos, se não todos os colegas, é buscar continuamente o objetivo de uma escola e uma sociedade verdadeiramente inclusiva, não-excludente, em que as condições de permanência e desenvolvimento sejam mais igualitárias. Lembrando que a saúde mental na escola é responsabilidade de todos, somos todos responsáveis pela criação e manutenção de um clima escolar favorável. Isso pode ser fomentado, por exemplo, através de atuação em ações e projetos de enfrentamento dos preconceitos e da violência na escola, ações voltadas para o público alvo da educação especial e necessidades específicas, promoção de ações de acessibilidade. Também por meio de estratégias de ensino com foco nas potencialidades e aptidões dos estudantes e desenvolvimento de vínculos baseados na afetividade.


O Clube: A literatura, para muitos, serve como um refúgio, uma maneira de esquecer - mesmo que brevemente - da realidade dura. Qual é a importância de ter contato com outras perspectivas, outros mundos, por meio dos textos literários?

Tatiana: Além dos benefícios do hábito de leitura para a atividade cerebral, concentração, desenvolvimento de senso crítico, ampliação de vocabulário, estímulo da criatividade, memória, persistência, habilidade de escrita, ainda há o de manutenção e promoção da saúde mental. Para aqueles que estejam passando por alguma situação difícil, uma leitura agradável pode ser um refúgio momentâneo desta realidade. O contato com outras perspectivas permite também a possibilidade de se colocar no lugar do outro, favorecendo a melhoria de habilidades socioemocionais, como a empatia e o autoconhecimento. E ainda, diante de uma dificuldade, quando a gente se permite ver as situações sob uma perspectiva diferente, pode ficar mais fácil encontrar uma saída. Ressaltamos, contudo, que apesar da literatura ser boa aliada para a saúde mental, não substitui acompanhamento profissional especializado, quando necessário.


O Clube: Que leitura você indicaria para nossos estudantes?

Tatiana: Minha primeira indicação é um livro que li recentemente, A diferença invisível, de Julie Dachez. É uma história em quadrinhos baseada na vida da autora, uma mulher autista que teve diagnóstico tardio, já adulta. É esclarecedor ao tratar de algumas características e necessidades de pessoas com Síndrome de Asperger (termo em desuso, variação de autismo leve), aborda temas como respeito às diferenças, defesa de um mundo mais inclusivo e autoaceitação.
    A segunda indicação é A coragem de ser imperfeito, de Brené Brown. O livro é baseado em experiências pessoais e pesquisas da autora sobre o poder da vulnerabilidade, de permitir-se ser quem é.
    Por último, indico uma série que é puro entretenimento, O guia do mochileiro das galáxias, de Douglas Adams, porque me faz rir toda vez que eu leio, é bem divertido.


O Clube: Poderia deixar uma mensagem para nossos leitores?

Tatiana: Aproveitando que estamos iniciando setembro, lembramos que neste mês é realizada a campanha Setembro Amarelo para conscientização para prevenção ao suicídio e promoção da saúde mental. Assim, para cuidar da nossa saúde mental, podemos sugerir algumas estratégias: além dos estudos, invista em atividades de lazer, exercícios físicos, exercícios de respiração e meditação, cuide do tipo de informação e mídia que está consumindo, mantenha rotina de sono, alimentação saudável, vínculos sociais e afetivos, converse com alguém de sua confiança sobre seus sentimentos e se for necessário procure ajuda profissional. Seja gentil consigo mesm@. Acolha-se, cuide-se bem.

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