Entrevista: Guilherme Gasparotto

    Em mais uma entrevista da série, conversamos com o professor de Educação Física do IFPR Pinhais, Guilherme Gasparotto.
    Ele nos contou um pouco sobre a sua trajetória como jogador de basquete na adolescência, sua profissão e, claro, falou sobre algo que nunca é demais: saúde!
    Esperamos que gostem!
    Boa leitura!


Foto: Arquivo Pessoal

O Clube: O esporte tem papel central na sua vida, tanto como professor de Educação Física, como por meio do seu envolvimento com as lutas, como o Jiu-Jitsu. Poderia falar um pouco sobre a sua trajetória? O que te levou a buscar uma formação na área?

Guilherme: Foi culpa da minha mãe!! Rsrsrsr. Explico: Aos onze anos de idade eu pesava 80 kg, como deve imaginar isso implicou em alguns problemas na minha vida (físicos, psicológicos, sociais, emocionais...), especialmente por se tratar da fase final da infância e início da adolescência.
    Já aos oito anos encarava dietas, por recomendação média, pois no final dos dias chorava na cama com dores terríveis nas pernas, causadas pelo excesso de peso que elas carregavam. Foi iniciativa da minha mãe, preocupada com minha saúde, procurar um esporte para mim, na tentativa de controle do peso corporal.
    Obviamente que, menino, brasileiro, na década de 90, minha opção foi... Futebol. Entretanto, “lugar de gordinho é no gol”, então, fui ser goleiro. Não fez muito sentido, pois, eu precisava de mais movimento, mais atividade, não ficar parado na quadra esperando a bola chegar para cair no chão.
    Percebendo que não estava sendo benéfico, minha mãe me levou para tentar o Voleibol. Mas, em Bauru, minha cidade natal, só tinha equipe de categoria adulta para esse esporte. Ainda assim tentei, mas levei tanta bordoada nos primeiros treinos que acabei percebendo que não dava para mim.
    Sem pensar em desistir, minha mãe me levou para tentar o Basquetebol e foi ali que me encontrei!!! Além de gordinho eu era grande, o maior da equipe. Fiquei apaixonado por esse esporte, fui atleta de basquete pelos 11 anos seguintes, eleito melhor jogador do estado de São Paulo aos 14 anos, convocado duas vezes para seleção paulista infantil e uma vez para seleção brasileira, alguns títulos estaduais e regionais, além de me ajudar com a saúde, em todos os aspectos. Posso afirmar que muito do que eu sou, sou por conta do esporte e seus agentes atuantes sobre o indivíduo (contexto, pessoas, situações, problemas....). Daí em diante não é difícil imaginar que cursar Educação Física foi consequência, poderia ter sido outra, mas a chance era pequena. Até tentei! Cursei Publicidade e Propaganda por dois anos, antes de entender que não adiantava tentar fugir!


O Clube: A disciplina de Educação Física, assim como várias outras, sofre com estereótipos - de que é só soltar uma bola na quadra e deixar os estudantes jogarem, ou de que é uma disciplina "que não reprova", entre outras questões. Quais foram os desafios que você encontrou na sua trajetória docente e como busca superá-los?

Guilherme: Você foi boazinha com o termo ‘estereótipos’. É preconceito brabo e de todos os lados, estudantes, pais e colegas, inclusive! E esse preconceito, em geral, é muito mais perceptível naqueles com 20 anos de idade ou mais. Via de regra, essas pessoas tiveram aulas com professores formados em um momento em que a Educação Física passou por uma crise de existência. Até o final da ditadura militar, a Educação Física escolar focava em exercícios de ginástica ou na prática de esportes, voltava o olhar para a performance, desempenho e saúde. Depois desse período, as teorias críticas da educação brasileira levaram a uma reflexão do papel dessa disciplina na escola, no que diz respeito ao estudo de aspectos relacionados ao desenvolvimento humano em contextos multidimensionais, para além do físico.
    Ocorre que, entre crise de identidade, má vontade, disputas ideológicas, falta de recursos materiais, entre outros fatores, os professores mais antigos (não todos, obviamente!) ,ainda adotam esse modelo exposto na pergunta, ou esportivista, ou “tô nem aí”.
    Entretanto, percebe-se uma clara mudança na postura de gestores em Educação e professores de Educação Física. Os formados estão saindo da universidade com uma formação muito mais sólida e abrangente do que somente os esportes. Exemplo disso são nossos estudantes de ensino médio, do IFPR e do campus Pinhais, que do primeiro ao terceiro ano aprendem todos os conteúdos estruturantes da Educação Física: Danças, Lutas, Esportes, Ginásticas e os diversos tipos de Jogos, além de todos os conteúdos transversais relacionados.
    Quanto à superação dos desafios, os esportes (e meus pais rsrsrs) me ensinaram a reconhecer que quando imaginamos ser melhor do outros somos vulneráveis. Portanto, é necessário humildade. Entretanto, também me mostraram que se eu treinar, treinar, treinar (estudar, estudar, estudar ou me capacitar, me capacitar....) nunca serei menos que ninguém! Nesse sentido, deixo que meu trabalho, minhas ações e o feedback de meus alunos falem por mim.


O Clube: Certamente não é regra, mas tampouco é incomum que alguns amantes de livros sejam pessoas que praticam pouca atividade física, já que usam qualquer tempo livre para ler mais algumas páginas. O que poderia falar sobre a relação entre exercício físico e saúde mental, especialmente para nossos leitores que talvez tenham se identificado com este hábito?

Guilherme: Certamente eu diria: Você que ler ainda mais, ou melhor? Então reserve 30 minutos do seu dia para um exercício físico, qualquer um!!! Preferencialmente alternando os tipos de estímulos. Pode ser Yoga, Pilates, caminhadas, esportes, corridas, bike, patins, não se trata aqui de exercícios extenuantes, trata-se de MOVIMENTO. O corpo humano precisa se movimentar, ou ele vai parar de vez, antecipadamente.
    Já é consenso científico a quantidade de benefícios que atividades físicas proporcionam, seja pela descarga hormonal que induzem a uma sensação de bem-estar geral ou pela possibilidade de socialização, que por consequência pode influenciar aspectos afetivos e emocionais.
    Foi-se o tempo de dividir o ser humano em corpo e mente, essa perspectiva dualógica, dicotômica, é muito rasa para definir o indivíduo. Não somente no campo da atividade física, mas em outras dimensões da vida, quando alguém tenta me definir como zero ou um só tenho a lamentar, pois para chegar a tal conclusão o julgador desconsiderou toda a complexidade envolvida na formação do sujeito, no caso, eu!
    Não cabe aqui, mas deixo como referência alguns trabalhos que fizemos com estudantes do IFPR (!!!), que mostraram que estudantes envolvidos em projetos de contraturno escolar, relacionados a práticas corporais, apresentaram melhor autoconceito (como o indivíduo se percebe frente a um ideal e seus pares), melhor percepção de autoeficácia (como o indivíduo se enxerga capaz de realizar determinada tarefa) e melhor desempenho escolar (melhores notas). Esses trabalhos evidenciaram que não é possível desvincular atividades físicas de indicadores cognitivos. Portanto, reserve um tempinho do seu dia para se exercitar.
    Se ajudar, quando eu saia para caminhar ou correr, costumava colocar audiolivros ou palestras do YouTube no fone de ouvido! Fica a dica!


O Clube: Esta pergunta não pode faltar: que leitura você indicaria para nossos estudantes?

Guilherme: Apesar se ser sobre um personagem do esporte, é uma leitura para qualquer pessoa: “Nunca deixe de tentar”- Michael Jordan. Nesse livro, ele expõe seis itens, os quais acredita ser fundamental para o desenvolvimento de carreira e vida.


O Clube: Poderia deixar uma mensagem para nossos leitores?

Guilherme: Não treine por que alguém disse que precisa treinar, não leia por que alguém disse que precisa ler. Faça o que quiser, desde que seja em seu benefício real e daqueles que te amam!

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